Por Dra. Mônica Martellet
Pharmacist | Aesthetic Specialist | University Professor | CEO at Dra. Mônica
Martellet Advanced Aesthetics
A primeira vez que vi um caso de resistência à toxina botulínica na minha clínica, confesso: pensei que fosse uma falha técnica. A aplicação estava perfeita. A marca, reconhecida. O plano de pontos, preciso. Mas, semanas depois, a paciente me retornou dizendo que o resultado “não aconteceu”. Foi aí que me aprofundei em algo que muitos profissionais ainda ignoram e que pode mudar completamente a forma como conduzimosnossos tratamentos: a imunogenicidade.
Imunogenicidade é a capacidade que uma substância tem de provocar uma resposta do sistema imunológico. No caso da toxina botulínica, significa que o corpo pode desenvolver anticorpos neutralizantes, que impedem a ação da toxina nos receptores musculares. Em outras palavras, a toxina é aplicada, mas simplesmente não faz mais efeito. Ela é reconhecida como uma “ameaça” e bloqueada pelo próprio organismo.
Na prática clínica, isso tem se tornado mais comum do que imaginamos. Especialmente em pacientes que recebem aplicações com intervalos muito curtos, acumulam doses em múltiplas regiões do rosto, ou utilizam formulações com maior carga proteica, o que aumenta o risco imunogênico. As evidências científicas sempre apontam: quanto maior a exposição e o estímulo ao sistema imune, maior a chance do corpo desenvolver resistência.
Estudos recentes, como o publicado na JMIR Dermatology em 2025, reforçam a importância de respeitar o tempo biológico entre as aplicações. O intervalo mínimo recomendado é de quatro meses. Isso não apenas preserva a eficácia do tratamento, como também ajuda a evitar a produção de anticorpos que podem comprometer os resultados a longo prazo.
Esse é um ponto sensível na estética de hoje. Em busca de manter os resultados em dia, muitas pessoas têm ultrapassado esse limite biológico sem perceber. O desejo pelo efeito contínuo, pela pele sempre “pronta para foto”, pode acabar provocando o oposto: o corpo aprende a se defender da toxina e os efeitos simplesmente desaparecem. E quando isso acontece, trocar de marca ou aumentar a dose nem sempre resolve.
Como profissional da estética avançada, acredito que nossa responsabilidade vai além do procedimento. Precisamos educar, orientar e, acima de tudo, respeitar o que a biologia nos sinaliza. A estética que se sustenta ao longo dos anos é aquela que entende o tempo do corpo, e não apenas o tempo do espelho. Não é só sobre aplicar toxina. É sobre cuidar de um sistema vivo, dinâmico, que precisa de estratégia, consciência e, muitas vezes, de pausa.
E claro… busque sempre profissionais de referência que respeitam o que a ciência vem estudando e comprovando