Entrevista exclusiva com o especialista que transformou políticas ambientais em ações concretas e agora leva sua experiência para além das fronteiras brasileiras.
- Wanderson, sua carreira na administração pública brasileira é extensa e diversificada. Como começou sua trajetória e quais foram os principais marcos profissionais que o trouxeram até aqui?
Fui convocado e lotado na Secretaria de Finanças, mas logo vi a oportunidade de atuar na Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA), área pela qual sou apaixonado. Com o intuito de me especializar, concluí a pós-graduação em Ciências Ambientais, focando em Gestão Ambiental. Enfrentei desafios como promover a proteção, conservação e desenvolvimento sustentável do meio ambiente, buscando melhorar a qualidade de vida e preservar os recursos naturais de Goiânia.
Trabalhei em diversas ações, como fiscalização ambiental, resgate de animais silvestres, avaliação de árvores e combate à poluição sonora, além de contribuir para a criação de parques ambientais importantes, como o Parque Orlando de Morais e o Parque Nova Esperança, onde coordenei a desocupação de 22 famílias. Meu desempenho na AMMA me levou a prestar serviços na Câmara Municipal de Vereadores, ajudando a elaborar projetos de lei para a preservação ambiental e o equilíbrio entre o crescimento econômico e a proteção ambiental.
Fui nomeado Diretor de Áreas Verdes e Unidades de Conservação da AMMA, onde coordenei a execução de projetos significativos, como o Parque Municipal Nova Esperança e o Parque Linear Macambira Anicuns, além do Projeto Plante a Vida, que incentivou o plantio de mudas nativas do cerrado pela população.
Também desenvolvi o Projeto Goiânia Coleta Seletiva, em parceria com a Comurg, promovendo a segregação de resíduos e a coleta de materiais recicláveis. No aniversário de 82 anos da cidade, organizei um plantio massivo de 12 mil mudas em um único dia, um marco significativo para a cidade.
Em 2017, fui convidado a integrar a Comurg como Gerente Administrativo, onde gerenciei cerca de 700 funcionários e contribuí para a melhoria da eficiência nos projetos ambientais da companhia, como o plantio e manejo de árvores nativas. Em 2019, fui nomeado Assessor Especial Técnico-2 na Secretaria de Assistência Social, onde implementei projetos sociais importantes, como a ampliação do banco de alimentos e a reforma dos CRAS e CREAS.
- Você foi reconhecido por seu trabalho ao longo dos anos? Se sim, poderia compartilhar algumas das premiações ou homenagens que recebeu?
Em 2020, fui reconhecido por minha dedicação e empenho no trabalho, sendo escolhido o Melhor Funcionário da Secretaria, entre 1120 colaboradores, e indicado para concorrer ao título de Melhor Funcionário da Prefeitura. Nos anos seguintes, em 2021 e 2022, continuei coordenando, gerenciando e fiscalizando as atividades de toda a Secretaria de Assistência Social.
Em 2022, fui agraciado com a Medalha de Honra ao Mérito Ambiental pela Câmara de Vereadores, e em 2023 recebi o Diploma de Honra ao Mérito, também da Câmara, em reconhecimento ao meu trabalho e contribuição para o município.
- Sua formação acadêmica combina Direito com Gestão Ambiental. Como essa intersecção de conhecimentos influenciou sua atuação profissional?
O interesse por assuntos relacionados à natureza e ao meio embiente me acompanha desde a infância, entretanto, apenas quando estudei direito ambiental na faculdade que passei a considerar atuar profissionalmente nessa área. Ao me graduar em Direito, direcionei os estudos para concurso público e obtive êxito. Ao ser convocado, considerei a possibilidade de trabalhar na Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA), onde busquei me profissionalizar cada vez mais com a conclusão da pós graduação em Ciências Ambientais com enfoque em Gestao Ambiental. Além disso, sou membro da Sociedade Ambientalista Brasileira do Cerrado e também prestei serviços em algumas empresas prestando consultoria ambiental. Eu acredito que todas essas trocas de experiências técnicas e de liderança de equipe me capacitaram a me tornar um profissional voltado para área administrativa e de gestão ambiental.
- Você ocupou diversas posições de liderança na administração pública. Qual considera ser seu maior legado como gestor público?
Acredito que o meu maior legado como gestor público tenha sido a capacidade de aglutinar e gerenciar pessoas de diversas áreas de formação e de conhecimento, tentando sempre respeitar as diferentes opiniões e pontos de vista relacionados a cada assunto, com o foco primordial no sucesso de cada tarefa.
- Como você concilia as exigências técnicas da administração pública com a sensibilidade necessária para lidar com questões ambientais e sociais?
Acredito que conciliar essas duas dimensões exige equilíbrio entre eficiência técnica e compromisso ético. Penso que o ponto de partida é entender que os processos técnicos, como planejamento, orçamento e execução, devem estar sempre a serviço do bem comum. Por isso, procuro integrar desde o início a análise de impactos ambientais e sociais em qualquer política ou projeto público.
Também considero fundamental manter um diálogo constante com a sociedade civil, com especialistas e comunidades envolvidas, considerando a aplicação de ferramentas como a Avaliação de Impacto Ambiental e Social, pois isso permite que as soluções adotadas sejam mais sensíveis à realidade local e, ao mesmo tempo, mais eficazes. Acredito que a formação contínua e o compromisso com a ética pública são indispensáveis, tomar decisões sustentáveis, mesmo sob pressões políticas ou orçamentárias, exige preparo, consciência e transparência.

- Seu artigo científico aborda a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil. Que paralelos você enxerga entre os desafios enfrentados no Brasil e nos Estados Unidos nessa área?
Apesar das diferenças estruturais e econômicas, tanto Brasil quanto os EUA enfrentam entraves comuns, quais sejam: desigualdade na aplicação das políticas, necessidade de maior engajamento da sociedade, desafios técnicos e de mercado para a reciclagem, e, também a falta de integração entre os entes federativos.
- Com sua experiência em gestão ambiental municipal, que inovações você acredita que poderiam ser implementadas na Califórnia para melhorar a sustentabilidade urbana?
A Califórnia, com sua abordagem pioneira em questões ambientais, tem avançado bastante na gestão ambiental, mas ainda há espaço para inovações que poderiam tornar mais sustentáveis as cidades que compõem o Estado. Por exemplo, a integração de tecnologias, a participação da comunidade e a adoção de práticas mais circulares são fundamentais para enfrentar os desafios ambientais do futuro. Algumas dessas inovações podem melhorar a infraestrutura urbana, otimizar o uso de recursos e promover uma maior integração entre a tecnologia e o comportamento dos cidadãos. Essas inovações podem não só melhorar a sustentabilidade urbana na Califórnia, mas também servir de modelo para outras regiões ao redor do mundo.
- Que conselhos você daria para profissionais brasileiros que desejam seguir uma trajetória internacional na área de gestão pública e ambiental?
Como disse antes, a chave é a capacitação contínua, sendo indispensável o compromisso com a ética pública, para a tomada de decisões sustentáveis, mesmo sob pressão e diferentes pontos de vista.
- Para finalizar, como você enxerga o futuro da gestão ambiental em centros urbanos? Quais serão os principais desafios nas próximas décadas?
A poluição atmosférica, causada por veículos, indústrias e queima de combustíveis fósseis, continuará afetando a saúde pública. Com o crescimento urbano e as mudanças no regime de chuvas, muitas cidades enfrentarão crises hídricas. A urbanização não planejada levará à ocupação de áreas de risco, desmatamento e perda de ecossistemas urbanos, com desencadeamento de um expansão urbana desordenada. E, por fim, as cidades precisarão integrar áreas verdes, corredores ecológicos e soluções baseadas na natureza, a fim de promover serviços ecossistêmicos e qualidade de vida, para conservação da biodiversidade urbana.
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Wanderson Marinho Alves dos Santos de Oliveira é bacharel em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira e possui especialização em Gestão Ambiental pelo Centro Universitário Claretiano. Com mais de 12 anos de experiência na administração pública municipal brasileira, ocupou diversos cargos de liderança, incluindo o de Diretor de Áreas Verdes e Unidades de Conservação. É autor de artigo científico sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos e recebeu reconhecimentos como o título de Mérito Acadêmico e Profissional em Direito Ambiental.
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